Monday, February 23, 2009

Água

Estava morta, não que estivesse mesmo morta e já não respirasse, estava morta apenas porque não vivia. Muitos estranhavam que estivesse viva, que na aparência continuasse imaculada. A carne continuava inteira e os germes não a queriam por banquete. Não tocava, não bebia, não vivia. Respirava é certo, falava e brincava como dantes. Mas a falta de água secou-lhe os olhos, levou-lhe a saliva e o suor. O seu corpo, frio feito de pedra impermeável deixou de sentir. Estava morta e os que lhe tocavam sabiam. Faziam um luto breve e seguiam com as suas vidas cheias de água, tão certas como as chuvas que levam os rios até ao mar.