Friday, December 30, 2005

Depois

Depois da tempestade vem o silêncio da Morte. O momento suspenso. Pausa. De repente respiramos de novo e a cada molécula de ar invade-nos uma dor aguda. Então vem o movimento. Caótico, desprovido de som, cheiro, imagens. É o tudo e o nada. É a avalanche que fazemos por não sentir. Depois, muito Tempo depois, depois do Tempo as feridas sarar, então vem a Bonança.
O céu cinzento trazia a promessa de dias melhores.

A preto e branco

Sabia que a falta de côr realçava os seus olhos.
E eu queria ter os olhos assim, doces. Queria ter aquelas rugas profundas, marcadas por risos e caudais de lágrimas de sal. Queria ter os olhos grandes, de quem se despede do Mundo num olhar. De quem se lembra de momentos há muito esquecidos. E queria as mãos assim secas, ásperas do vento e do frio, do trabalho, das crianças. Queria aquele sorriso, apenas porque é feliz.

Monday, December 26, 2005

O corredor era comprido, com chão de madeira escura e quente. Os carros que lá passavam tinham sido destinados àquelas mãos pequenas e sapudas que os conduziam de forma alucinada. A espaços olhavam para ela com os olhos escuros apenas porque a presença dela os fazia sentirem-se seguros.

Friday, December 09, 2005

E o tempo fluía, corria livre. Como um rio que, mansamente, corrói as pás do moínho.

Tuesday, December 06, 2005

Tangerina

Tem o cheiro agridoce de um abraço de despedida e o sabor das tardes de Inverno passadas em casa.

Monday, December 05, 2005

O fim da linha

O mundo é um bago de uva em cujo vinho me vou afogando.

Friday, December 02, 2005

E de repente o nada. O nada que já o era antes de o ser. O vazio que temia e que encontrei depois de tanto o procurar. O fim que é também o princípio, incógnito, anónimo e escuro. A luz que não era luz apagou-se. O sonho que era engano acabou. A verdade é triste e fria como as pedras da calçada num Dezembro chuvoso. Mas toco-a agora pela primeira vez. E o frio afasta-me do calor letárgico em que me encontrava. E fico feliz só por viver.