E o seu rosto surgiu, de repente, num sonho. Não percebia porquê. Não se lembrava do enredo do sonho. Só do rosto, do modo como a olhava e do que sentira. No fundo não passava de uma imagem. Mas de cada vez que se lembrava dessa partícula do sonho, a sua respiração parava. Então depois, muito tempo depois, percebeu que estava apaixonada. Não pelo sonho mas pelo homem real. Mas nunca confessou que se apaixonara enquanto dormia.
Tuesday, January 31, 2006
Monday, January 23, 2006
Monday, January 16, 2006
Friday, January 13, 2006
Linhas cruzadas
Seguiu as linhas azuis que se adivinhavam por baixo da pele branca. Encontrou o coração. E espantou-se ao descobrir o seu lado funcional...
Thursday, January 12, 2006
Baptismo
O Augusto era um anão. Chamava-se assim porque sua mãe imaginara para ele um grande futuro. Mas Augusto de augusto não tinha nada e a sua vida media-se pela sua altura.
Monday, January 09, 2006
O raio de sol entrava indiscreto pela janela. Insolente, denunciava o movimento de todas as partículas de pó.
Sentou-se em frente ao espelho e passou as mãos pela pedra fria do tocador. Olhou cuidadosamente o próprio rosto e tentou ver o que todos viam. Sorriu várias vezes, observou minuciosamente o traço que lhe desenhava o nariz. Depois viu o todo e concentrou-se nele. A intensidade do seu olhar apagou as linhas e tornou as suas feições em sombras difusas. Suavemente, num movimento lento, lânguido, pegou no pincel e começou a pintar-se. Desenhou os traços que o mundo veria. A imagem tôrpe que reflectia a sua alma era um segredo só seu.
Friday, January 06, 2006
Era a primeira vez. E, simultaneamente, apenas mais uma entre muitas. Era a primeira vez que via o céu daquele ângulo, naquela rua que era a de sempre. Pela primeira vez reparou nos recortes geométricos que os telhados desenhavam no azul límpido de Janeiro. Reparou na pedra branca e eterna que pavimentava o chão de Lisboa e que desenhava os seus passos.